Conceição Evaristo – Biografia
A trajetória da mulher negra que transformou sua vivência em literatura, resistência e legado na cultura brasileira.
ESCRITORES BRASILEIROS
Vitor da Silva Soares
8/19/20254 min read


Maria da Conceição Evaristo de Brito, conhecida como Conceição Evaristo, nasceu em 29 de novembro de 1946, em Belo Horizonte (MG), no bairro Lagoinha, uma região marcada pela pobreza, mas também por forte presença de comunidades negras e pela riqueza das tradições culturais e religiosas afro-brasileiras. Sua vida e obra estão profundamente entrelaçadas à experiência da mulher negra no Brasil, especialmente a luta contra o racismo, o sexismo e a desigualdade social.
Infância e Juventude
Conceição cresceu em uma família humilde, composta por nove irmãos, sob os cuidados de sua mãe, Dona Joana Josefina, lavadeira e empregada doméstica. Desde cedo, viveu a realidade da exclusão social e da precariedade material, mas também teve contato com a força da oralidade, das histórias contadas por mulheres da família e da comunidade. Essas narrativas se tornaram parte essencial de sua formação como escritora.
Para ajudar no sustento da casa, começou a trabalhar ainda criança, como empregada doméstica e babá, em casas de famílias brancas. Ao mesmo tempo, nutria o desejo de estudar. Costumava dizer que, enquanto cuidava dos filhos de seus patrões, sonhava em transformar sua vida por meio da educação e da palavra escrita.
Educação e Formação Acadêmica
Apesar das dificuldades, Conceição não desistiu dos estudos. Somente aos 25 anos, em 1971, conseguiu concluir o ensino médio, após enfrentar anos de interrupções escolares por causa do trabalho. Nesse mesmo período, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como professora da rede pública de ensino.
Determinada a prosseguir, ingressou no Curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se formou. Mais tarde, realizou o mestrado em Literatura Brasileira na PUC-Rio e, em 2011, defendeu seu doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF), com uma tese sobre a escritora afro-americana Toni Morrison e a escritora brasileira Carolina Maria de Jesus.
Carreira Literária
Sua estreia na literatura aconteceu em 1990, quando publicou poemas e contos na série “Cadernos Negros”, coletânea organizada pelo coletivo Quilombhoje, de São Paulo. Foi ali que começou a ganhar reconhecimento dentro dos círculos da literatura negra.
Conceição desenvolveu o conceito de “escrevivência”, neologismo criado por ela para designar uma escrita que nasce da experiência vivida, sobretudo da experiência das mulheres negras. Para ela, a literatura não é apenas invenção ou estética, mas também testemunho de existência, denúncia e resistência. Sua produção busca romper com o apagamento da voz negra na literatura brasileira, oferecendo protagonismo a sujeitos historicamente marginalizados.
Principais Obras
“Ponciá Vicêncio” (2003) – seu primeiro romance, que narra a vida de uma mulher negra marcada pela herança da escravidão, pelo trabalho árduo e pela busca de identidade e liberdade.
“Becos da Memória” (2006) – romance em que resgata memórias de uma comunidade negra e pobre, mostrando como o espaço urbano também é lugar de resistência.
“Poemas da Recordação e Outros Movimentos” (2008) – coletânea poética em que a memória, o corpo e a ancestralidade se entrelaçam.
“Insubmissas Lágrimas de Mulheres” (2011) – reúne contos sobre mulheres negras e suas dores, resistências e potências.
“Olhos d’Água” (2014) – coletânea de contos premiada pela crítica, em que retrata desigualdade, racismo e afetividade.
“Histórias de Leves Enganos e Parecenças” (2016) – livro de contos que mistura realidade e ficção em linguagem poética.
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – romance que dialoga com questões de poder, masculinidade e violência estrutural.
Reconhecimento Nacional e Internacional
A consagração de Conceição Evaristo aconteceu a partir dos anos 2000, quando passou a ser estudada em universidades brasileiras e estrangeiras, principalmente em cursos de literatura comparada, estudos de gênero e decoloniais.
Em 2015, recebeu o Prêmio Jabuti (segundo lugar) pelo livro Olhos d’Água.
Em 2017, foi homenageada pela FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty, ao lado de autores como Lima Barreto.
Em 2018, foi indicada pela sociedade civil para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo a primeira mulher negra a concorrer oficialmente. Apesar de não ter sido eleita, o gesto foi histórico e levantou amplo debate sobre elitismo e racismo institucional.
Suas obras já foram traduzidas para diversos idiomas, incluindo inglês, francês, espanhol e árabe, o que consolidou seu reconhecimento internacional.
Pensamento e Ativismo
Conceição sempre defendeu a literatura como direito humano fundamental, ecoando ideias de Antônio Candido. Para ela, escrever é um ato político, e ler é um exercício de liberdade. Sua escrita denuncia o racismo estrutural, a pobreza, a violência contra mulheres negras e a invisibilidade imposta à população afro-brasileira.
Além da literatura, atua como intelectual e militante em espaços acadêmicos e políticos, destacando-se na luta pelo fortalecimento da cultura afro-brasileira e pela valorização da mulher negra.
Legado
Hoje, Conceição Evaristo é considerada uma das maiores escritoras da literatura brasileira contemporânea. Sua vida e obra inspiram não apenas pela qualidade estética, mas também pela força de resistência e transformação social. Sua “escrevivência” tornou-se conceito e prática fundamental para novas gerações de escritoras e escritores negros, consolidando um espaço de fala antes negado na literatura nacional.






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