Carlos Drummond de Andrade: o poeta que deu voz ao coração humano

O futuro precisa de leitores. E leitores precisam de Drummond.

ESCRITORES BRASILEIROS

Vitor da Silva Soares

8/18/20253 min read

Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais. Cresceu em uma família tradicional do interior, cercado pelo silêncio das montanhas e pelo ritmo lento da pequena cidade. Era um menino tímido, de olhar curioso, que encontrou nas palavras um abrigo e uma forma de compreender o mundo.

Formou-se em Farmácia em 1925, mas nunca exerceu a profissão. O destino de Drummond era outro: a poesia. Trabalhou como redator, professor e, mais tarde, funcionário público no Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro. Mesmo no ambiente burocrático, continuou a escrever, transformando sua experiência de vida em uma das obras mais ricas da literatura brasileira.

A estreia e o Modernismo

Sua estreia foi com “Alguma Poesia” (1930), livro em que já aparece o poema que o eternizou, “No meio do caminho”. Esse início colocou Drummond entre os grandes nomes do Modernismo brasileiro, movimento que defendia a liberdade de linguagem e a valorização do cotidiano.

Logo viriam “Brejo das Almas” (1934), “Sentimento do Mundo” (1940), “José” (1942), “A Rosa do Povo” (1945) e “Claro Enigma” (1951), entre tantos outros. Sua obra, vasta e plural, foi reconhecida por críticos como uma das mais completas da língua portuguesa.

As quatro fases da poesia de Drummond

A crítica literária costuma dividir a obra de Carlos Drummond de Andrade em quatro grandes fases:

1. Fase irônica e satírica – marcada pela irreverência, humor e ironia, como em Alguma Poesia (1930) e Brejo das Almas (1934).

2. Fase social – ligada à consciência política e às dores coletivas, visível em Sentimento do Mundo (1940), José (1942) e principalmente em A Rosa do Povo (1945).

3. Fase filosófica e existencial – mais reflexiva e grave, voltada ao tempo, à morte e ao sentido da vida, como em Claro Enigma (1951).

4. Fase memorialista – dedicada às lembranças da infância e da juventude em Itabira, como na trilogia Boitempo (1968-1979).

Essa trajetória mostra a capacidade de Drummond de se reinventar e dialogar com seu tempo, sem nunca perder a essência poética.

O homem por trás do poeta

Drummond foi casado com Dolores Dutra de Morais, com quem teve sua única filha, Maria Julieta. O vínculo entre pai e filha foi profundo, sustentado por cartas, conversas e cumplicidade.

A vida, porém, não lhe poupou dores: Dolores faleceu em 1984, e, em 1987, Maria Julieta morreu de câncer, aos 59 anos. Apenas 12 dias depois, em 17 de agosto de 1987, Drummond também faleceu, como se não conseguisse sobreviver à perda da filha.

O legado eterno

Ao longo da vida, Drummond publicou mais de 30 livros, entre poesia, crônicas e contos. Recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, em 1984, pelo conjunto da obra.

Sua poesia fala de amor, amizade, infância, perdas, mas também de guerras, injustiças e esperanças. Une o íntimo ao coletivo, o simples ao profundo, o Brasil ao universal. É por isso que continua a tocar gerações: porque fala daquilo que não muda — o coração humano.

Drummond e o futuro

Carlos Drummond de Andrade não é apenas um poeta do passado. É um poeta do presente e do futuro. Ler sua obra é descobrir que a poesia está no cotidiano, no gesto mais simples, no silêncio das perdas e na beleza da esperança.

Como disse o próprio poeta, “a poesia é incomunicável, fica para além de qualquer livro”. Talvez por isso Drummond continue vivo: porque cada nova geração encontra nele um espelho e uma centelha.

O futuro precisa de leitores. E leitores precisam de Drummond.